Aditivos para motor e combustível: mitos e verdades
Nas prateleiras das estações de serviço ou nas lojas de peças automóveis, somos frequentemente confrontados com uma vasta gama de pequenas garrafas coloridas. As promessas estampadas nos rótulos são sedutoras: "recupere a potência original", "reduza o consumo drasticamente", "limpeza profunda do motor" ou "elimine fumos negros". Para o condutor comum, preocupado com a subida dos preços dos combustíveis e com a longevidade do seu veículo, estes produtos parecem a solução mágica para muitos problemas. Mas será que funcionam mesmo?
O mundo dos aditivos para combustível e óleo de motor é vasto e, muitas vezes, confuso. Entre o marketing agressivo das marcas e o ceticismo de alguns mecânicos "da velha guarda", é difícil discernir o que é facto e o que é ficção. A verdade, como quase sempre, encontra-se no meio-termo. Os aditivos não são milagres engarrafados, mas também não são, na sua totalidade, "banha da cobra".
Neste artigo, vamos desmontar os mitos, analisar a ciência por trás destes compostos químicos e explicar quando é que o seu uso pode ser benéfico para a saúde do seu automóvel e quando é apenas um desperdício de dinheiro. Se quer manter o seu carro em dia, é fundamental entender o que está a colocar dentro do depósito.
O que são realmente os aditivos automóveis?

Para compreendermos a sua eficácia, primeiro precisamos de entender o que são. Em termos simples, os aditivos são compostos químicos formulados para melhorar as propriedades dos fluidos que o seu carro utiliza, seja o combustível (gasolina ou gasóleo) ou o óleo lubrificante.
A maioria dos combustíveis modernos que abastecemos na bomba já contém um pacote básico de aditivos. Estes são inseridos pelas gasolineiras para cumprir normas ambientais e garantir um funcionamento mínimo de limpeza. No entanto, os aditivos de "pós-venda" (aqueles que compra em garrafa) são muito mais concentrados e focados em tarefas específicas.
Geralmente, dividem-se em três categorias principais:
- Detergentes e dispersantes: Destinados a limpar depósitos de carbono nos injetores e válvulas.
- Melhoradores de combustão: Desenhados para aumentar o índice de octanas (gasolina) ou cetano (gasóleo).
- Modificadores de atrito e viscosidade: Utilizados no óleo do motor para reduzir o desgaste interno.
A promessa da limpeza: injetores e válvulas

Um dos maiores argumentos de venda dos aditivos é a capacidade de limpeza. Com o tempo e a utilização, é natural que os motores de combustão interna acumulem resíduos. A queima de combustível nunca é 100% limpa, resultando na formação de gomas, vernizes e depósitos de carbono (a famosa "carbonização").
Como a sujidade afeta o motor
Estes resíduos tendem a acumular-se em locais críticos, como os bicos dos injetores, as válvulas de admissão e a câmara de combustão. Num motor moderno, onde a precisão da injeção de combustível é medida em micrómetros, qualquer obstrução, por mínima que seja, altera o padrão de spray do combustível.
As consequências são visíveis e sentidas pelo condutor:
- Ralenti instável ou trepidação do motor.
- Aumento do consumo de combustível.
- Perda de resposta na aceleração.
- Aumento das emissões poluentes (fumos).
A eficácia dos aditivos de limpeza
Neste campo, a verdade é que muitos aditivos de marcas reputadas funcionam. Produtos que contêm polieteramina (PEA), por exemplo, são comprovadamente eficazes na remoção de depósitos de carbono endurecidos. Se o seu carro tem alguns anos e nunca levou um tratamento, a utilização de um aditivo de limpeza de injetores pode resultar numa melhoria notável da suavidade do motor e numa ligeira recuperação da economia de combustível.
Contudo, é importante gerir as expectativas. Um aditivo de limpeza é uma ferramenta de manutenção, não de reparação. Se um injetor estiver mecanicamente danificado ou completamente entupido, nenhum líquido vai resolver o problema. A eficácia reside na prevenção e na limpeza de sujidade moderada.
Potência e performance: o mito das octanas
Outra categoria popular são os boosters de octanas (para gasolina) ou de cetano (para gasóleo). A promessa aqui é transformar o seu carro familiar num carro de corrida apenas adicionando um frasco ao depósito.
Quando vale a pena aumentar as octanas
Aqui entramos num terreno onde o mito muitas vezes supera a realidade. A octanagem mede a resistência do combustível à detonação prematura, não a quantidade de energia que ele contém.
Para a grande maioria dos carros convencionais, desenhados para funcionar com gasolina 95, colocar um aditivo para aumentar as octanas para 98 ou 100 não trará qualquer benefício percetível em termos de potência. A centralina do carro (ECU) está programada para um determinado padrão e não vai "inventar" cavalos extra só porque o combustível resiste mais à compressão.
A exceção dos carros de alta performance
A história muda de figura se tiver um carro desportivo ou um motor reprogramado (com chip tuning). Nestes casos, os motores operam com taxas de compressão mais altas e pontos de ignição mais agressivos. Se o motor detetar combustível de baixa qualidade, a centralina atrasa a ignição para proteger o motor, reduzindo a potência. Aqui, um aditivo de octanas pode garantir que o motor entrega toda a potência para a qual foi projetado, evitando a perda de rendimento em dias quentes ou em condução exigente.
Portanto, a verdade sobre os aditivos de performance é: eles restauram a potência perdida devido à má qualidade do combustível ou depósitos, mas raramente adicionam potência acima das especificações de fábrica num carro normal.
Aditivos para óleo: cuidado redobrado

Enquanto os aditivos de combustível são relativamente seguros (o pior que pode acontecer é não fazerem nada), os aditivos para o óleo do motor exigem muito mais cautela.
O óleo de motor moderno, especialmente os sintéticos de alta qualidade, é já um cocktail químico extremamente complexo e equilibrado. Os engenheiros químicos passam anos a desenvolver fórmulas onde os detergentes, antioxidantes e modificadores de viscosidade trabalham em harmonia.
O risco de desequilibrar a fórmula
Ao adicionar um produto extra ao cárter, corre o risco de desestabilizar essa química. Por exemplo, alguns aditivos prometem criar uma camada cerâmica ou de teflon (PTFE) para reduzir o atrito. Embora a teoria pareça sólida, em alguns casos, estes compostos podem aglomerar-se e entupir as passagens de óleo mais finas ou o filtro de óleo, causando o exato oposto do que se pretende: a falha de lubrificação.
Quando usar aditivos de óleo
Existem situações específicas onde podem ser úteis:
- Carros muito antigos: Motores com folgas grandes e vedantes ressequidos podem beneficiar de aditivos que "incham" as borrachas para parar pequenas fugas de óleo ou que aumentam a viscosidade para reduzir o consumo de lubrificante.
- Proteção anti-fricção específica: Alguns aditivos à base de Bissulfeto de Molibdénio (MoS2) têm uma longa história de eficácia na redução de ruído e desgaste em motores mais rústicos, mas o seu uso em motores ultra-modernos com filtros de partículas sensíveis deve ser sempre validado pelo manual do fabricante.
Mitos comuns vs. realidade prática
Para simplificar a sua decisão na próxima vez que for abastecer, vamos desconstruir alguns dos mitos mais prevalentes no mercado.
Mito: os aditivos consertam peças mecânicas
Muitas pessoas recorrem aos aditivos quando o carro começa a falhar, esperando evitar uma ida à oficina.
- Realidade: Se um sensor de oxigénio estiver avariado, se um catalisador estiver partido ou se um segmento do pistão estiver gasto, não há aditivo que o repare. Os aditivos são preventivos ou corretivos de problemas de sujidade, nunca de problemas mecânicos estruturais.
Mito: quanto mais, melhor
Se uma garrafa é boa, duas devem ser ótimas, certo?
- Realidade: Errado. A sobredosagem de aditivos no combustível pode ser corrosiva para as linhas de combustível, vedantes e borrachas. No caso dos aditivos de limpeza, o excesso pode até soltar grandes pedaços de carvão de uma só vez, entupindo o catalisador. Respeite sempre a proporção indicada na embalagem.
Mito: os resultados são imediatos
- Realidade: Alguns aditivos de aumento de cetano podem dar uma sensação imediata de resposta, mas os aditivos de limpeza geralmente precisam de tempo. Pode ser necessário consumir um ou dois depósitos inteiros de combustível tratado para que os agentes de limpeza dissolvam as camadas de carvão acumuladas ao longo de anos.
Sinais de que o seu carro precisa de "vitamina"

Antes de correr para a loja, analise o comportamento do seu carro. O uso de aditivos de limpeza de sistema de injeção é mais recomendado se notar:
- Dificuldade no arranque a frio.
- Pequenos soluços em aceleração constante.
- Um aumento súbito nos consumos médios sem mudança no estilo de condução.
- Fumos de escape mais visíveis do que o habitual.
Se o seu carro é novo ou tem poucos quilómetros, o uso preventivo (uma vez por ano) é suficiente para garantir que os injetores se mantêm como novos, adiando problemas futuros.
O veredito final sobre a eficácia
Os aditivos não são uma farsa, mas também não são uma solução mágica para carros negligenciados. A sua eficácia é científica e baseada na química: solventes dissolvem sujidade, lubrificantes reduzem atrito. O problema reside muitas vezes no marketing exagerado que promete transformar um carro velho num novo.
A melhor abordagem é a do "ceticismo informado". Utilize aditivos de marcas reconhecidas e com provas dadas no mercado. Encare-os como parte da sua rotina de manutenção alargada, tal como verificar a pressão dos pneus ou o nível da água. Um motor limpo é, inegavelmente, um motor mais eficiente, mais económico e mais duradouro. Investir 15 ou 20 euros num bom aditivo a cada seis meses pode poupar-lhe centenas de euros em reparações de injetores ou válvulas EGR no futuro.
Lembre-se: nenhum aditivo substitui a mudança regular de óleo e filtros. A manutenção base é o alicerce; o aditivo é apenas o acabamento.
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