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Correia ou corrente de distribuição: o que muda na prática?

Correia ou corrente de distribuição: o que muda na prática?

A distribuição é um dos sistemas mais críticos de qualquer motor de combustão interna. É ela que garante a sincronização perfeita entre o movimento dos pistões e a abertura e fecho das válvulas. Quando funciona corretamente, passa despercebida. Quando falha, pode significar danos graves e dispendiosos no motor.

Apesar da sua importância, continua a ser um dos temas que mais dúvidas gera entre quem compra um carro novo ou usado: afinal, é melhor correia ou corrente de distribuição?

O que é o sistema de distribuição e porque é tão importante?

Independentemente de usar correia ou corrente, a função da distribuição é sempre a mesma: manter o motor sincronizado. Esse sistema liga a cambota à árvore de cames, assegurando que as válvulas abrem e fecham no momento exato em relação ao movimento dos pistões.

Num motor moderno, essa sincronização é milimétrica. Um pequeno desfasamento pode provocar perda de desempenho, funcionamento irregular ou, no pior cenário, contacto entre válvulas e pistões - uma das avarias mais caras que um motor pode sofrer.

É por isso que o tipo de distribuição utilizado tem impacto direto não só na manutenção, mas também na fiabilidade a longo prazo.

Correia de distribuição: simplicidade e previsibilidade

Correia de distribuição de carro

A correia de distribuição é feita de borracha reforçada com fibras sintéticas. É leve, silenciosa e relativamente barata de produzir, o que explica porque foi amplamente adotada durante décadas, sobretudo em motores de pequena e média cilindrada.

Como funciona a correia na prática

A correia trabalha externamente ao motor, protegida por uma tampa, e funciona a seco. Com o tempo, o material degrada-se devido a fatores como temperatura, idade e esforço mecânico. Por isso, a correia tem sempre um intervalo de substituição definido pelo fabricante, normalmente entre 60.000 e 180.000 km, ou um número máximo de anos.

Vantagens reais da correia de distribuição

Na utilização diária, a correia oferece funcionamento silencioso e menor atrito, o que contribui ligeiramente para consumos mais baixos. Além disso, os custos de produção são reduzidos, o que ajuda a manter o preço final do carro mais acessível.

Outro ponto positivo é a previsibilidade. Quando o plano de manutenção é cumprido, o risco de falha é baixo. O problema surge quando a substituição é adiada ou ignorada.

O principal risco da correia

A grande desvantagem da correia é simples: se partir, os danos podem ser imediatos e graves. Em muitos motores, a quebra da correia resulta na destruição parcial ou total do motor, com reparações que facilmente ultrapassam o valor comercial do veículo.

Corrente de distribuição: robustez com nuances

Corrente de distribuição carro

A corrente de distribuição é metálica, semelhante a uma corrente de bicicleta, e trabalha normalmente dentro do motor, lubrificada pelo óleo. Durante muitos anos, foi vista como uma solução “para a vida”, sem necessidade de substituição periódica.

Como funciona a corrente na prática

Ao contrário da correia, a corrente não tem um intervalo de substituição fixo. Em teoria, foi concebida para durar toda a vida útil do motor. No entanto, na prática, a durabilidade depende fortemente da qualidade do projeto, da lubrificação correta e do tipo de utilização.

Os problemas modernos das correntes

Nos últimos anos, vários motores modernos com corrente ganharam má reputação. O motivo não está na corrente em si, mas em componentes associados, como esticadores hidráulicos, guias plásticas e projetos demasiado otimizados para reduzir peso e atrito.

Quando surgem problemas, os sintomas podem incluir ruídos metálicos a frio, falhas de sincronização e, em casos extremos, danos internos semelhantes aos causados pela quebra de uma correia.

Correia banhada a óleo: o pior dos dois mundos?

Uma solução intermédia que merece destaque é a correia de distribuição banhada a óleo, utilizada por vários fabricantes na última década. A ideia era combinar a suavidade da correia com a durabilidade da corrente.

Na prática, muitos destes sistemas revelaram problemas sérios. O contacto constante com o óleo pode degradar o material da correia, libertando partículas que entopem o sistema de lubrificação. Em alguns casos, isso levou a campanhas de recall, revisões antecipadas e custos elevados para os proprietários.

Este é um exemplo claro de como o tipo de distribuição, por si só, não garante fiabilidade.

Conheça aqui a história dos motores 1.2 PureTech com corrente banhada a óleo

O que muda na manutenção e nos custos?

Na prática, a diferença entre correia e corrente reflete-se sobretudo na forma como o proprietário gere a manutenção.

Num carro com correia, o custo surge de forma concentrada, quando chega o momento da substituição. Já num carro com corrente, os custos são menos previsíveis: podem não existir durante muitos anos ou surgir de forma inesperada, caso haja desgaste prematuro.

Em ambos os casos, o fator decisivo é o histórico de manutenção. Trocas de óleo regulares e utilização adequada são especialmente críticas em motores com corrente.

Qual é melhor para quem compra um carro usado?

A resposta curta é: depende mais do motor do que do tipo de distribuição.

Há motores com correia extremamente fiáveis e motores com corrente problemáticos - e o inverso também é verdade. Para quem compra um carro usado, o mais importante é:

  • Saber qual o sistema de distribuição utilizado
  • Confirmar o histórico de manutenção
  • Verificar se existem problemas conhecidos nesse motor específico
  • Avaliar se a substituição (no caso da correia) está iminente

Comprar um carro com correia recém-substituída pode ser mais seguro do que um carro com corrente negligenciada.

Mitos comuns sobre correia e corrente

Durante muito tempo, criou-se a ideia de que a corrente é sempre melhor. Hoje, essa generalização já não faz sentido. A evolução dos motores mostrou que boas decisões de engenharia são mais importantes do que o tipo de componente utilizado.

Outro mito comum é que a correia torna o carro automaticamente menos fiável. Na realidade, quando bem mantida, a correia é um sistema eficaz, silencioso e previsível.


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Miguel Braga
Miguel Braga
Miguel Braga integra a equipa editorial da Auto.pt, é licenciado em Comunicação Empresarial e sempre manteve uma forte ligação ao mundo automóvel, uma das suas áreas de eleição.

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