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Dieselgate: conheça toda a história do maior escândalo automóvel

Dieselgate: conheça toda a história do maior escândalo automóvel

Em 2015, o mundo automóvel foi abalado por um dos maiores escândalos industriais das últimas décadas: o Dieselgate. O que começou como uma investigação ambiental nos Estados Unidos rapidamente se transformou num evento global, envolvendo milhões de carros, várias marcas e uma crise de confiança sem precedentes.

Este episódio mudou para sempre a forma como o mercado vê os motores diesel, a transparência das marcas e até o futuro da mobilidade.

Neste artigo, explicamos como tudo começou, o que realmente aconteceu, quais foram as marcas envolvidas, as consequências legais e financeiras, e como o Dieselgate ainda hoje influencia o mercado automóvel, incluindo o mercado de usados.

O que é o Dieselgate?

Aparelho Defeat device do dieselgate

O termo “Dieselgate” refere-se ao escândalo em que se descobriu que vários fabricantes usaram software fraudulento para manipular testes de emissões de motores diesel.

O objetivo? Fazer parecer que os carros poluíam muito menos do que realmente poluíam.

Em condições reais de condução, muitos dos veículos em causa emitiam até 40 vezes mais óxidos de azoto (NOx) do que os limites legais. Este software, apelidado de “defeat device”, detetava quando o carro estava num teste de homologação e alterava o comportamento do motor para cumprir os valores exigidos.

Fora do laboratório, o carro voltava ao modo “normal” e altamente poluente.

Como o escândalo começou: o papel das autoridades americana

Inspetores do Dieselgate do ICCT

A história teve início em 2014, quando a ICCT (International Council on Clean Transportation), em conjunto com a Universidade da Virgínia Ocidental, realizou testes independentes a vários carros diesel vendidos nos EUA.

Os resultados foram chocantes: os veículos VW e Audi apresentavam emissões de NOx (óxidos de azoto) muitíssimo superiores aos valores declarados.

As autoridades ambientais norte-americanas, nomeadamente a EPA, exigiram explicações. Depois de meses de pressão e investigações, a Volkswagen acabou por admitir oficialmente, em setembro de 2015, que utilizava um software manipulador.

A partir desse momento, o caso explodiu para todo o mundo.

Que marcas estiveram envolvidas?

Embora a Volkswagen seja o rosto principal do escândalo, não foi a única marca sob escrutínio. As investigações revelaram suspeitas, irregularidades e casos confirmados noutras marcas, incluindo:

  • Audi (do grupo VW)
  • Porsche
  • Skoda
  • Seat
  • Mercedes-Benz
  • Fiat Chrysler (FCA)
  • Renault
  • Opel
  • Peugeot-Citroën (PSA)
  • BMW (em casos isolados e polémicos)

É importante sublinhar que nem todas as marcas instalaram software fraudulentos, algumas foram acusadas de utilizar estratégias de calibragem agressivas, outras foram investigadas mas não formalmente condenadas. Ainda assim, o Dieselgate abriu uma caixa de Pandora e expôs um problema estrutural: a diferença entre valores declarados e emissões reais.

A tecnologia por trás do escândalo: como funcionava o “defeat device”

O software fraudulento tinha uma função específica: detetar quando o veículo estava num teste de emissões.

Os testes laboratoriais eram realizados em condições previsíveis:

  • velocidade constante
  • rodas dianteiras em rolos
  • direção imobilizada
  • ausência de variação rápida de carga no motor

O software reconhecia este padrão e ajustava o funcionamento do motor, ativando sistemas de controlo de emissões extremamente limitadores, que seriam inúteis ou prejudiciais em condução real.

Isto permitia que os carros passassem nos testes com valores “limpos”, quando no uso do dia-a-dia emitiriam muito mais poluição.

Porque é que as marcas recorreram a esta fraude?

Existem vários fatores que explicam a pressão sobre os fabricantes:

Normas ambientais cada vez mais apertadas

Cumprir limites de NOx nos motores diesel, mantendo simultaneamente consumos baixos e boas prestações, tornou-se um desafio enorme, especialmente nos EUA, onde as regras eram mais rígidas do que na Europa.

Custos elevados de tecnologia limpa

Sistemas como SCR com AdBlue ou catalisadores mais complexos encareciam o preço do veículo, dificultando a competitividade.

Competição feroz pelo mercado diesel

Nos anos 2000 e início de 2010, várias marcas apostavam fortemente no diesel e prometiam “limpeza”, “eficiência” e “ecologia”, algo que, sem manipulação, se tornou difícil de alcançar.

Falhas na fiscalização

Na Europa, os testes de emissões eram bastante mais permissivos, permitindo margens de tolerância e estilos de condução laboratoriais pouco realistas. O Dieselgate revelou fragilidades graves no método de homologação.

Impacto global: o escândalo que abrangeu milhões de carros

Carro volkswagen em preto

O Dieselgate tornou-se num fenómeno mundial pela dimensão que atingiu:

  • Mais de 11 milhões de carros Volkswagen afetados globalmente
  • Milhões de veículos de outras marcas investigados
  • Multas e indemnizações no valor de dezenas de milhares de milhões de euros
  • Prisão de executivos, demissões e crise institucional no Grupo VW
  • Queda abrupta do valor de mercado
  • Regulamentação global revista e reforçada

A credibilidade do motor diesel ficou seriamente abalada.

O Dieselgate em Portugal: quantos carros foram afetados?

Em Portugal, estima-se que cerca de 125 mil veículos Volkswagen, Audi, Seat e Skoda equipados com o motor EA189 foram afetados.
Os proprietários foram chamados às oficinas para atualizações de software.

Não houve custos diretos para os condutores, mas muitos queixaram-se de:

  • aumento de consumo
  • perda de potência
  • comportamento diferente do motor

Ainda assim, oficialmente, “as características de condução não foram prejudicadas”.

Consequências para a Volkswagen e para a indústria automóvel

Multas e indemnizações gigantescas

Nos EUA, só a Volkswagen pagou mais de 30 mil milhões de dólares em multas, compensações e acordos judiciais.

Prisão de executivos

Vários dirigentes foram condenados, incluindo responsáveis diretos de engenharia.

Mudança estratégica total

O Grupo Volkswagen passou de líder do diesel para líder da eletrificação, investindo dezenas de mil milhões em carros elétricos.

Fim do diesel como referência ecológica

Com o Dieselgate, o diesel perdeu a imagem de “combustível limpo”.
Cidades europeias passaram a restringir circulação de carros diesel antigos.

Efeito no mercado de usados: o diesel caiu em desgraça?

O Dieselgate não destruiu o diesel, mas mudou completamente a forma como é percebido no mercado automóvel. Antes visto como a escolha ideal para quem procurava autonomia, economia e durabilidade, o motor diesel passou a carregar um certo estigma associado à poluição e à falta de transparência das marcas. Esta mudança não aconteceu de um dia para o outro, mas foi-se consolidando à medida que consumidores, autoridades e fabricantes se adaptaram às novas exigências ambientais.

Queda da procura e mudança de prioridades

Depois do escândalo, muitos consumidores passaram a desconfiar das emissões reais dos carros diesel e do impacto ambiental que representam no uso diário. Esta mudança de mentalidade, aliada à crescente popularidade dos híbridos e elétricos, reduziu a procura de alguns modelos, especialmente os mais antigos ou aqueles diretamente associados ao motor EA189, o mais emblemático do Dieselgate.

Desvalorização de alguns modelos específicos

Naturalmente, esta queda de confiança teve consequências económicas. Em vários mercados europeus, carros equipados com motores envolvidos no escândalo sofreram uma desvalorização mais acentuada. Embora em Portugal esse impacto tenha sido menos dramático do que noutros países, houve uma clara diferença entre modelos afetados e variantes mais recentes ou completamente isentas do problema.

Aumento da fiscalização e inspeções mais rigorosas

O Dieselgate também desencadeou uma mudança nas inspeções periódicas. Em alguns países, incluindo Portugal, o controlo sobre emissões tornou-se mais rigoroso, com verificações adicionais que simulam condições reais de utilização. A intenção é garantir que os valores de poluição não se limitam aos testes laboratoriais, mas correspondem ao comportamento do veículo no dia-a-dia.

O diesel continua a ter lugar?

Apesar de tudo, o diesel não desapareceu, sobretudo em Portugal. Para quem percorre longas distâncias, faz viagens frequentes ou utiliza o carro em contexto laboral, os motores diesel continuam a ser vantajosos em termos de consumos e durabilidade.

O que mudou foi a perceção generalizada: deixou de ser a escolha “padrão” e passou a ser uma opção ponderada, analisada caso a caso, dependendo do tipo de utilização e das restrições ambientais de cada zona.

O Dieselgate mudou a legislação europeia

Bandeira da União europeia

Se houve uma lição clara retirada deste escândalo, foi a necessidade urgente de modernizar os métodos de avaliação de emissões. Até 2015, os testes eram demasiado permissivos e não refletiam minimamente as condições reais de condução.

O Dieselgate expôs esta fragilidade e acelerou uma reformulação profunda nos processos de homologação.

WLTP: consumos e emissões mais realistas

O antigo ciclo NEDC foi substituído pelo WLTP (Worldwide Harmonised Light Vehicles Test Procedure), um método de teste muito mais rigoroso, que simula situações de condução mais próximas da realidade: variações de velocidade, acelerações mais intensas e períodos mais longos de teste.

O objetivo era simples: aproximar os valores de consumo e emissões do que o condutor realmente experimenta na estrada.

RDE: testes reais em estrada

Talvez a mudança mais significativa tenha sido a implementação dos RDE (Real Driving Emissions). Pela primeira vez, os carros passaram a ser testados em circulação real, equipados com dispositivos que medem diretamente as emissões enquanto o veículo anda em estradas públicas.

Este avanço reduziu drasticamente a margem de manipulação e tornou muito mais difícil esconder emissões ilegais.

Impacto direto nas marcas

Com normas tão rigorosas, os fabricantes tiveram de investir pesadamente em tecnologias mais limpas, como sistemas avançados de SCR, catalisadores de maior eficiência e soluções híbridas.

Em última análise, o Dieselgate acelerou a transição para motores mais eficientes e abriu caminho para a expansão da mobilidade elétrica.


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Miguel Braga
Miguel Braga
Miguel Braga integra a equipa editorial da Auto.pt, é licenciado em Comunicação Empresarial e sempre manteve uma forte ligação ao mundo automóvel, uma das suas áreas de eleição.

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